quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Espreme sai-sangue

I'm shocked.
Primeiro, aquele jornalzim de extremo mal gosto, o tal de "Na polícia e nas ruas". Matérias horríveis, fotos, então, nem se fala. Tudo pra no fim das contas servir tan solo pra saciar o desejo de sangue de fatalidade do povo. E ainda se auto-intitulam "polêmicos". Polêmico é discutir uso de pílula em grupo de igreja, polêmica é discutir aumento da gasolina. Isso tudo é mau gosto, isso sim. Palavra que ninguém é obrigado a entrar num ônibus lotado (ave viplan), num calor imoral, depois de um longo dia de trabalho e ter que ver uma capa de jornal daquelas. Mas o pior, choquem-se vocês, é que o jornal vende que nem água! Me disse a moça do jornaleiro que tá vendendo mais na rodoviária do Plano que revista de fofoca. Madre Santa.
Agora, a segunda parte. Entro eu -terça-feira, meio-dia, azul de cansaço- no 110 (linha Rodoviária do plano- UnB) e me deparo com uma matéria de capa (não lembro se Correio ou Jornal do Brasil): Bebê de oito meses é assassinado à facadas. Puta que pariu. O susto foi tão grande que eu fiquei ali, na roleta, parada que nem um dois-de-paus, olhando por cima dos ombros da menina que lia o jornal. Minha cara devia estar tão estranha, ou eu fiquei tanto tempo parada olhando praquilo, que o cobrador bateu de leve no ferro e fez 'psiu'. Pisquei, tentei sorrir e fui pra trás. Abismada. Assustada. O pior de tudo é que parece que foi a mãe da criança, uma garota de 17 anos, quem fez isso. Agora me diz: alguém pode viver sossegado se toda hora essas coisas são jogadas na nossa cara? Será que a realidade já não é dura demais pra gente não procurar pensar e fazer diferente? Não devemos fingir que tudo isso não existe -assassinatos, a fome, a violência em geral. Mas será que precisamos realmente dessa massificação? Anthony, o Garotinho, disse que a violência do Rio de Janeiro quem faz é a Globo. Não, de forma alguma. A violência existe sim. E existe no menino que vende bala no sinal, na garotinha que deixa de estudar pra pedir nos ônibus, na mãe de família que pari um filho atrás do outro, e dá um filho atrás do outro que nem bicho, por não ter condições de criá-los. Não é só no morro, não é só nas satélites. Mas essa massificação acaba deixando aquele mal-estar, acaba pesando o ar. Ninguém precisa ficar pensando em morte o tempo todo. Falar em violência desgasta qualquer um.
E sei lá... nessa política do Pão&Circo que a mídia aqui vive, nessa coisa de juntar futebol e eleições... será até que ponto a violência é mostrada por ela só? Se o cara pensa em futebol e assassinatos, não vai ter muito tempo pra pensar em política, vai?

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"os três poderes são um só: o deles." Nicolas Behr

Um comentário:

Madame Bovary disse...

Tive a infelicidade de ver ontem na rodox várias meninas, devidamente fardadas,gritando com esse jornaleco nas mãos " apenas um real" .Podemos ter a medida do valor de um real.Nem questiono quem compra.....é só prazer mórbido e egoista inerente ao seromano de não ser o persoangem da capa.