
Isso de deixar de fazer uma coisa, ou de falar algo, pela falta de certeza da reação do outro é quase uma prisão. E aqui a falta de certeza é diferente da incerteza. Não sei diferente como, mas é. Mas às vezes a gente faz umas coisas que não sabe porquê. Esses dias mesmo me peguei andando pelo subsolo do bloco A do ICC só pra não encontrar ninguém. Fujo corredor a fora só pra não encontrar um conhecido e engatar uma conversa chata que vai durar horas (e sei que o ser humano tem um prazer sádico por esse tipo de conversa. Ela não leva à lugar algum, nenhum dos participantes gosta dela e não se sabe por que cargas d'água não inventam uma desculpa qualquer pra cair fora). Ultimamente não tenho tido muito saco pra gente. Posso ficar uma hora inteira ao lado de um amigo sem falar uma palavra sequer. Que bom que a maioria entende. Quanto mais uma atitude dessas vinda de mim, que falo que nem uma condenada. Pode ser até um mecanismo da minha mente adoecida e saturada por um fim de semestre em março e por uma vizinha que escuta Caly(xo)pso na maior das alturas no único dia da semana que eu fico em casa para me manter do lado de cá do sutil fio transparente que divide a insanidade da lucidez. Realmente deve ser isso, tomando-se por base que eu vinha falando demais, reclamando demais, chateando demais.n Não sei como não cheguei ao ponto do insuportavel (e, se cheguei, prefiro me manter ignorante quanto ao fato, pra que não tenha remorso). Descobri que eu pareço um besouro, daqueles que zunem e voam o tempo todo pra todos os lados, e quando não tem mais pra onde voar fica naquele movimento de vai-e-volta constante. Comecei a perceber isso um dia que fiquei esperando a chuva passar pra ir embora do lado de uma pessoa que mais parecia a estátua de Buda: primeiro porque não respondia pergunta nenhuma que eu lhe fazia, depois porque conseguiu ficar parado por incríveis dez minutos. Sem contar o sorrisinho enigmático. Depois fui fazer as contas, ao perceber que todos os meus copos de vidro haviam sumido, e vi que essa minha inquietação tinha me feito quebrar meia dúzia de copos em uma semana. Sem contar um sem-número de canetas perdidas, compromissos esquecidos (não obstante eu ter comprado uma agenda. Até porque eu a esqueço em todo lugar que vou), guarda-chuvas deixados em todo lugar, a bagunça do meu armário, os afazeres deixados pela metade. Meu quadro é clínico. Não sei se tudo isso é dispersão, falta de disciplina ou ansiedade. Ou pode ser tão somente cansaço.
Ou não.
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