Quanto mais óbvio, menos provável. Há quem pense que morar em Brasília é, essencialmente, estar ligado à política. Ledo engano. Diria até ‘ledíssimo’, em homenagem a um conhecido, caso tal superlativo existisse. O brasiliense é por si só um ignorante político, e isso inclui estudantes, funcionários do governo, jornalistas. Teremos um exemplo disso se formos observar de quem é a dinastia que domina Brasília há tempos, qual o jornal mais popular e a revista de maior vendagem na capital. É preciso citar nomes?
Eu poderia até culpar a burguesia pelo fato, pois temos a maior concentração dela por metro quadrado do país (graças ao bom Deus o fato se deve a não termos tantos metros quadrados assim), mas me assusto a cada vez que constato que somos a nata da ignorância política e da falta de humanidade, por descaso ou até simplesmente por preguiça. Nos ônibus e nas ruas reinam as idéias reacionárias, do tipo “rouba, mas faz”, nas escolas professores insistem que sem dinheiro (muito) você não vai ser ninguém. Mães e pais pressionam adolescentes quando surgem concursos públicos como os da Câmara ou do Senado (o salário, meu filho, pense no salário). Mas quando o assunto é eleições, cada um dá seu jeito de sair de fininho. É um tal de “política não se discute” pra cá, uma história de “são todos iguais, as coisas não vão mudar” pra lá que até enjoa. Igualdade social? “Nunca”, dirão, “é utopia. Coisa de sonhadores, de quem não sabe ser prático”. Um nojo. Sim, pois a ignorância consentida enoja.
Mas por outro lado temos o que alguém chamou de “classe média comunista”. Esse é o tipo mais engraçado. É o filho de deputado tucano que usa camiseta do Che, os hippies universitários que desfilam na L2 de Honda Civic, e coisas desse tipo. Uma incoerência só.
E enquanto esses dois grandes grupos (os acomodados e os pseudo-engajados) vivem da sua autofagia, a miséria vai crescendo ao redor da capital. Invasão em cima de invasão, gente morando no lixão, a favela de Vicente Pires aumentando (inclusive suas aparições na mídia local), o crime se organizando e deputado vendendo a mãe pra não ter o nome envolvido em escândalos esse ano.
Brasília é um retrato saturado do restante do país. Aqui as coisas são mais evidentes, talvez por isso todo mundo aqui viva como se a situação fosse a mais normal possível. Não percebem o caos, não se comovem com a realidade alheia. Temos um governo criador de miseráveis. Quem foi que disse pra alguém que Brasília é um paraíso? Por que vêm pessoas dos confins do Goiás achando que, chegando aqui, por um passe de mágica vão conseguir um emprego público e apartamento na Asa Sul? Brasília não dá mais conta dos próprios filhos, e não se por de dar ao luxo de sair adotando mais gente. Não, não estou sendo fascista, longe de mim. O que acho é que devemos encarar o fato de que aqui ninguém quer dividir nada com ninguém. O cara que trabalha no Senado não quer que seu filho, tão bem educado no Galois, divida um banco de universidade com o filho do porteiro do prédio, quem dirá pensar no fato de que sua empregada possa vir a ser sua chefe no serviço público. Isso nunca! Alguém tem que evitar que o poder chegue às mãos de ex-empregados de fábricas e metalúrgicas, de professores ou estudantes. Vê lá se alguém quer deixar de comer em restaurantes caríssimos pra que algum outro infeliz possa vir a ter o arroz-com-feijão na mesa.
“Não, não”, pensam, “que eles se contentem com a própria sorte, porque nós já nos contentamos com a nossa”.
Eu poderia até culpar a burguesia pelo fato, pois temos a maior concentração dela por metro quadrado do país (graças ao bom Deus o fato se deve a não termos tantos metros quadrados assim), mas me assusto a cada vez que constato que somos a nata da ignorância política e da falta de humanidade, por descaso ou até simplesmente por preguiça. Nos ônibus e nas ruas reinam as idéias reacionárias, do tipo “rouba, mas faz”, nas escolas professores insistem que sem dinheiro (muito) você não vai ser ninguém. Mães e pais pressionam adolescentes quando surgem concursos públicos como os da Câmara ou do Senado (o salário, meu filho, pense no salário). Mas quando o assunto é eleições, cada um dá seu jeito de sair de fininho. É um tal de “política não se discute” pra cá, uma história de “são todos iguais, as coisas não vão mudar” pra lá que até enjoa. Igualdade social? “Nunca”, dirão, “é utopia. Coisa de sonhadores, de quem não sabe ser prático”. Um nojo. Sim, pois a ignorância consentida enoja.
Mas por outro lado temos o que alguém chamou de “classe média comunista”. Esse é o tipo mais engraçado. É o filho de deputado tucano que usa camiseta do Che, os hippies universitários que desfilam na L2 de Honda Civic, e coisas desse tipo. Uma incoerência só.
E enquanto esses dois grandes grupos (os acomodados e os pseudo-engajados) vivem da sua autofagia, a miséria vai crescendo ao redor da capital. Invasão em cima de invasão, gente morando no lixão, a favela de Vicente Pires aumentando (inclusive suas aparições na mídia local), o crime se organizando e deputado vendendo a mãe pra não ter o nome envolvido em escândalos esse ano.
Brasília é um retrato saturado do restante do país. Aqui as coisas são mais evidentes, talvez por isso todo mundo aqui viva como se a situação fosse a mais normal possível. Não percebem o caos, não se comovem com a realidade alheia. Temos um governo criador de miseráveis. Quem foi que disse pra alguém que Brasília é um paraíso? Por que vêm pessoas dos confins do Goiás achando que, chegando aqui, por um passe de mágica vão conseguir um emprego público e apartamento na Asa Sul? Brasília não dá mais conta dos próprios filhos, e não se por de dar ao luxo de sair adotando mais gente. Não, não estou sendo fascista, longe de mim. O que acho é que devemos encarar o fato de que aqui ninguém quer dividir nada com ninguém. O cara que trabalha no Senado não quer que seu filho, tão bem educado no Galois, divida um banco de universidade com o filho do porteiro do prédio, quem dirá pensar no fato de que sua empregada possa vir a ser sua chefe no serviço público. Isso nunca! Alguém tem que evitar que o poder chegue às mãos de ex-empregados de fábricas e metalúrgicas, de professores ou estudantes. Vê lá se alguém quer deixar de comer em restaurantes caríssimos pra que algum outro infeliz possa vir a ter o arroz-com-feijão na mesa.
“Não, não”, pensam, “que eles se contentem com a própria sorte, porque nós já nos contentamos com a nossa”.
25/06/2006
2 comentários:
Meu anjo!Ma belle não leve as coisas nem a vida muito a sério.....nada mais antigo que lutas de classe...e no entento......cada um ao seu modo está na luta.....bjs
Y ave Marx!
Postar um comentário