quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

"Ser marginal foi uma decisão poética" (1989)

Foto: Cazuza (divulgação do disco 'Ideologia', 1988)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

It's only rock n'roll (but I like it)


Sobre "o" show de ontem?
Tan solo uma declaração a fazer: essas bandinhas que aparecem por aí têm ainda muuita coisa a aprender.
Do it?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Das coisas que começam num repente e se estendem

Hoje acordei com o sol brilhando, às 6h30 da manhã. Desde cedo o dia estava quente, e houve até uma proposta de vento fresco na minha cortina. O tempo parecia se deixar levar calma e lentamente, e o trânsito que começava parecia seguir o mesmo ritmo da manhã: aquela calmaria, apesar do tempo quente. A sexta-feira se estendia ao sol, se deixava aquecer, descansava.
Contrastando com tudo isso, minha metereologia interna. Eu me aborrecia desde já com tudo aquilo, apesar de saber estar o dia belo. Deixei de lado, com um certo enfado, o terno e a gravata. Foi com enfado também que tomei o café da manhã. Tudo que eu queria estava ali, e eu não queria mais nada. A facilidade com que me preparei para sair não me estancava o humor, que já estava se tornando péssimo. Assim, sem motivo, eu estava estranho a mim, e deixava este outro eu começar um lindo dia pessimamente. Assim, sem motivo, eu me aborrecia com tudo, e me aborrecia com esse outro que era eu. E assim, sem saber, eu não o controlava.
E como que por castigo, o trânsito me deixou exposto a sol, ao tempo e às pessoas que atravessam a avenida, apressadas. Algumas sorriam, outras simplesmente andavam. E eu ali, amargo. Cada minuto que eu me mantinha naquele tráfego travado me irritava mais, pois tinha que suportar aquele outro que nada suportava, pois tinha que me suportar.
Decidido a não deixar que nada mais fugisse da minha vontade, que nada mais acontecesse sem que eu quisesse (decidido a me deixar levar por eu-outro), entrei apressado na repartição. E foi ali que, indo contra todas as minhas resoluções mal-humoradas da manhã, indo de afronta à minha vontade, à mim mesmo e ao outro, eu a vi. Ali, parada, de vermelho. Mas porque diabos ela foi vir de vermelho? Só o fato de ela estar ali, parada de vermelho, vivendo outra coisa que não a minha exasperação, sentindo outra coisa que não o amargo de mim, fazia crescer a minha indignação.
Ela não me via. Ou melhor, me via, mas para ela isso não fazia diferença nenhuma. Como não deveria fazer para mim também. Mas, porque fazia? Porque o fato dela ser algo totalmente externo a trazia com mais força para dentro da minha cabeça? Eu a via ali todos os dias, já tínhamos nos encontrado nos corredores e em reuniões, mas pra mim isso não fazia tanta diferença. Só começou a fazer um dia que eu a descobri totalmente alheia a mim. Quando eu descobri que para ela eu era só mais um colega de trabalho, mais um chefe de alguém que aparecia e que mais tarde iria embora, sem deixar vestígio nem lembrança. E como essa indiferença (pois para ela eu e todos os outros éramos uma coisa só: o outro que não ela. Ela não pensava em mim.) era natural nela! Como para ela era simples não me ver!
E tudo isso não me inquietava. Mas agora, hoje, e não sei porquê, aquela mulher de vermelho me inquietava totalmente, aquele universo que não o meu me intrigava, e me irritava de alguma forma. Foi aí que me subiu uma ânsia de ser visto, ser notado por ela. Não como "outro", mas eu. Mas para ela não faria tanta diferença. Ela não notaria que hoje eu não estava de terno e gravata, ela não notaria que não fiz a barba. Não notaria que a minha estranha irritação contrastava em tudo com aquela blusa vermelha, com aquele ar que ela tinha. E de repente eu percebi que eu não poderia contar-lhe como foi a minha manhã, não poderia ligar-lhe para nos encontrarmos antes do jantar. E comecei a sentir uma falta imensa daquela presença que eu nunca tive. E tudo isso ao mesmo tempo me irritava e me entristecia. E naquela hora eu soube que ela estaria em mim ainda por um longo tempo...
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"Eu não sou eu, nem sou o outro.
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte do tédio-
que vai de mim para o outro
Mário de Sá-Carneiro"

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Moça com brinco de pérola

É impressionante como alguns detalhes dão toda a diferença... alguns deles fazem com que aquela pessoa que parece tão comum, tão "normalzinha", de repente ganhe um contorno, um recorte. Nas moças é mais fácil encontrar esses detalhes. Um brinco, o jeito de jogar o cabelo, uma pulseirinha no pé. Quando se trata dos moçoilos, a tarefa é mais difícil (e talvez por isso mesmo mais prazerosa). É que eles têm aquela mania de andar iguais, sei lá. Alguns parecem que só muda a cor.
Mas é aí que, olhando meio de esguelha, se percebe uma pulseira charmosinha, ou um cordão por dentro da gola da camisa, uma sombra de tatuagem por baixo da camiseta branca. Ou o jeito que olha cada vez que alguém passa perto, ou como põe as mãos nos bolsos. São esses detalhes, ou mesmos esses gestos espontâneos, que nos mostram alguma coisa que poucas pessoas vêem. São essas mínimas coisas -o jeito de olhar, de falar, de escolher, de guardar silêncio, de dizer "não sei", o jeito como se veste, como usa o cabelo- que diferenciam um ser humanos de bilhões de outros no mundo.
Há detalhes que se percebe também naquela pessoa que está só de passagem, ou que está na sua frente na fila do banco, ou em qualquer outro lugar. De alguma forma a gente "dialoga" com aquele ângulo descoberto no outro, nem que seja por pouquissimo tempo. E ficamos com aquela impressão guardada em nós.
Em todas as nossas relações vivemos essas descobertas quase que diariamente. Descobrimos no nosso outro coisas que o tornam cada vez mais peculiar, e podemos nos deixar surpreender por essas nuances.
Ou podemos nos fazer indiferentes a todo esse universo que se nos mostra. A gente é quem escolhe.

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Figura: Moça com Brinco de Pérola, Johannes 'Jan' Vermeer (1632-1675)

Espreme sai-sangue

I'm shocked.
Primeiro, aquele jornalzim de extremo mal gosto, o tal de "Na polícia e nas ruas". Matérias horríveis, fotos, então, nem se fala. Tudo pra no fim das contas servir tan solo pra saciar o desejo de sangue de fatalidade do povo. E ainda se auto-intitulam "polêmicos". Polêmico é discutir uso de pílula em grupo de igreja, polêmica é discutir aumento da gasolina. Isso tudo é mau gosto, isso sim. Palavra que ninguém é obrigado a entrar num ônibus lotado (ave viplan), num calor imoral, depois de um longo dia de trabalho e ter que ver uma capa de jornal daquelas. Mas o pior, choquem-se vocês, é que o jornal vende que nem água! Me disse a moça do jornaleiro que tá vendendo mais na rodoviária do Plano que revista de fofoca. Madre Santa.
Agora, a segunda parte. Entro eu -terça-feira, meio-dia, azul de cansaço- no 110 (linha Rodoviária do plano- UnB) e me deparo com uma matéria de capa (não lembro se Correio ou Jornal do Brasil): Bebê de oito meses é assassinado à facadas. Puta que pariu. O susto foi tão grande que eu fiquei ali, na roleta, parada que nem um dois-de-paus, olhando por cima dos ombros da menina que lia o jornal. Minha cara devia estar tão estranha, ou eu fiquei tanto tempo parada olhando praquilo, que o cobrador bateu de leve no ferro e fez 'psiu'. Pisquei, tentei sorrir e fui pra trás. Abismada. Assustada. O pior de tudo é que parece que foi a mãe da criança, uma garota de 17 anos, quem fez isso. Agora me diz: alguém pode viver sossegado se toda hora essas coisas são jogadas na nossa cara? Será que a realidade já não é dura demais pra gente não procurar pensar e fazer diferente? Não devemos fingir que tudo isso não existe -assassinatos, a fome, a violência em geral. Mas será que precisamos realmente dessa massificação? Anthony, o Garotinho, disse que a violência do Rio de Janeiro quem faz é a Globo. Não, de forma alguma. A violência existe sim. E existe no menino que vende bala no sinal, na garotinha que deixa de estudar pra pedir nos ônibus, na mãe de família que pari um filho atrás do outro, e dá um filho atrás do outro que nem bicho, por não ter condições de criá-los. Não é só no morro, não é só nas satélites. Mas essa massificação acaba deixando aquele mal-estar, acaba pesando o ar. Ninguém precisa ficar pensando em morte o tempo todo. Falar em violência desgasta qualquer um.
E sei lá... nessa política do Pão&Circo que a mídia aqui vive, nessa coisa de juntar futebol e eleições... será até que ponto a violência é mostrada por ela só? Se o cara pensa em futebol e assassinatos, não vai ter muito tempo pra pensar em política, vai?

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"os três poderes são um só: o deles." Nicolas Behr

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Dizem que há certos seres que habitam as árvores: são os elementais. É claro que essa "espécie" tem suas variantes -há aqueles que habitam as águas, há os que habitam os minerais e assim vai. Como não sou uma especialista em seres de outra natureza, não entrarei no mérito da questão. Um amigo contou que quando era pequeno viu esses serezinhos numa espécie de Sabbath, num culto à lua ou coisa parecida. Disse que eram minúsculos e que vestiam roupas coloridas. Carregava objetos estranhos, também coloridos alguns, outros meio que transparentes. Esses seres eram meio diáfanos, e devido a isso, quando perceberam que tinham um telespectador -o meu amigo- de repente, puf!, sumiram. Simples assim. E ele ficou só com a imagem dos bichinhos na cabeça. Não sei até que ponto é verdade, ou sonho, ou mesmo efeito de algo alucinógeno -brinquedo de criança vem com muito material tóxico, aquele cheiro de plástico que a gente tanto gostava, sei lá. Vai saber.- Pode ter sido influência da Xuxa também, aquilo de gnomos aos pés da cama.
O fato é que eu nunca vi um desse. Nem nada parecido. Na casa da minha avó tinha árvores de todo tipo, flores de todas as cores e um matagal vigoroso, próximo à um poço viscoso e frio. Local propício e propenso ao aparecimento de todo tipo de coisa ou de seres que gostassem o mínimo de folhagem. Mas nunca vi nada. Um tempo até cheguei a acreditar que eram eles quem cuidavam das flores e árvores, principalmente depois que a professora da 4ª série contou que a maior parte das árvores que vemos em Brasília não são nativas. Como então temos árvores tão bonitas? Quando chega outubro as árvores estão todas coloridas, em agosto o chão está quase que prateado por conta das folhas secas, março deixa a grama de um verde transparente. Era lógico pra mim que eram eles. Até descobri que "não, minha filha. O governo paga pessoas para cuidarem das plantas. mas se você acha que são eles, tudo bem. Gracinha". Pronto. Foi-se o mínimo de fantasia surreal que eu podia ter nos meus 10 anos.
Mas um dia desses me peguei pensando que, se as árvores não têm seus elementais para tratar delas, porque então acreditamos em anjos da guarda? Seres humanos são bem mais difíceis de lidar do que árvores. Seres humanos reclamam, chateiam-se e têm uma cabeça dura que eu vou te contar. Seres humanos podem ser cruéis uma barbaridade, seres humanos são egoístas, são prepotentes e, por mais que pareça óbvio, se acham melhores que uma floresta tropical inteira. Acham que com os seus 10% fazem mais pelo próximo que o Rio São Francisco. Acham que são mais indispensáveis ao mundo que o oxigênio. Pensam que podem se virar sozinhos, e não percebem que a natureza foi quem fez isso, a maior parte do tempo. Que Gaia vivia bem antes do Homem, e que poderia continuar muito bem assim, obrigado. Porque achar então que Deus ia disponibilizar uma das suas celestes criaturas pra cuidar de uma criança chata dessas? Só com uma paciência dos céus mesmo. Ou não. Vai ver o homem tem que se virar sozinho mesmo, que nem árvore. E o pior: o governo não paga ninguém pra cuidar dele.
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Foto: A.Raíssa, 13/02/2006, Faculdade de Educação (UnB)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

P... o quê???

PSOL, PMDB, PRONA, P-isso, P-aquilo... Já foi o tempo em que a sigla era a 'cara' do partido. Já foi o tempo em que o S de algumas outras representava o caráter socialista do partido. Hoje em dia a política está apinhada de siglas e mais siglas, de partidos nascidos de rachas de partidos maiores e com mais tempo de formação, netos de fulano e filhos de sicrano (o que não é nenhuma novidade na política brasileira). Mas alguém aí pode me contar aqui baixinho, qual é a do PSOL ou o que quer dizer isso? Pra mim até hoje esse partido foi o nicho de Heloísa Helena, uma barraqueira de porta de congresso de primeira. Mas, além disso, nada mais.
Dizem por aí que ele pretende ser "o novo PT", e dizem isso com o apoio intelectual do PSTU. Como assim? Um Partido dos Trabalhadores em edição revista e ampliada? Formado por quem acha que pensar a política é correr de um lado pra outro? Sinceramente, tomara que eu esteja errada, mas não tenho confiança nenhuma nesse "novo partido". Se é que ele pretende ser o PT, ou o new-PT, ou abrigar a new generation do PT eu não sei. Só acho que os partidários do PSOL (PSOListas???) deveriam prestar bem atenção na imagem que querem passar. Querem se construir por cima da imagem do PT, querem começar já por cima, e se esquecem do caminho trilhado pelo Partido dos Trabalhadores até as eleições de 2002. Se esquecem que o partido cresceu, desde cedo, devido à sua militância (militância essa que é o que está reestruturando o partido agora), e não com aparições escalafobéticas na mídia.
Se querem se manter aí por muito tempo, é bom aprender o que foi muito dolorido para o PT: não dá para abrir concessões, não dá pra tentar administrar o sistema da forma que quiser.
O PSOL ainda não virou piada, a exemplo do PRONA, e vai ter que rebolar para que isso não aconteça. E vai ter que começar a fazer política, no sentido limpo do termo.
Ou então vai ser só mais uma sigla sem significado, como me disse uma garota de quinze anos esses dias: "Vou votar nulo. Pelo menos sei o que isso quer dizer".

Anna Raíssa

Conecto, Logo Existo

Não sei quando foi que começou a brincadeira com a frase de Descartes (ou Technodescartes, como queiram). Acho que foi quando um colega da faculdade tentava se convencer (e nos convencer também, por tabela) de que não precisava da internet, da TV a cabo e do DVD. Nem eu, sempre esquiva com a modernidade, pude entender. Tá que você não precisa ser um technomaníaco, mas o mínimo de bom senso mostra que a tecnologia pode sim facilitar um pouco a nossa vida. O que me mata de raiva é aquela pessoa que não lê e-mail e não atende ao celular, por pura frescurinha, pra se fazer de original. Sim, há quem não goste, mas mesmo essas pessoas sabem que é necessário.
Não dá pra viver indiferente à tudo isso, não mesmo. O que é ruim é o exagero. Sabe aquele seu amigo que você só encontra pelo Messenger? Aquela vizinha que você só conhece por fotos do orkut? Aquele cara que te manda e-mails e você não faz idéia de quem seja? Esse é o technomaníaco. Como o cara que se finge indiferente à tecnologia, esse também é um chato.
Passei boa parte da minha manhã tentando editar esse troço, algumas pessoas não estavam conseguindo postar comentários e talz. Um saco. Eu sou uma porta de ignorância quando o assunto é PC, HTML e essas siglas tronxas. Mas aprender nunca faz mal. Mexe daqui, fuça dali, quase não consigo. Uma tristeza só. Mas agora estou feliz comigo mesma (ó o exagero). Mudei isso aqui, coloquei do jeito que eu queria, agora só precisa de uns ajustes, que eu vou dando com o tempo.
Ah, e já ia me esquecendo: nem dei um olá pro pessoal. Cheguei, invadi o recinto (o tal do blogspot), postei um texto e nem disse nada.
Mas agora já foi, é isso aí.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

An umbrella for all occasions


Hoje acordei com guarda-chuvas na cabeça. Não sei se por ter ouvido Aquarela ontem durante a aula de AE, se por ter tomado chuva pela terceira vez consecutiva essa semana ou mesmo por ter visto vários deles na sala de aula. O fato é que estava pensando muito nisso. Não o guarda-chuvas como material utilitário ou o que o valha para (não) nos livrar da molhadeira -para isso me valeria mais quilômetros de marquises. Mas um guarda-chuvas para aquela ocasião onde você quer passar desapercebido. Ou quando você quer oferecer uma carona para (aquele) alguém. O guarda-chuvas esquecido no ônibus, e que alguém vem entregar. O guarda-chuvas pra esconder as lágrimas, o guarda-chuvas pra esconder o beijo. O guarda-chuvas pro dia de ventania e céu escuro, que vira ao contrário quando a chuva grossa começa a cair. O guarda-chuvas para andar à noite entre as árvores que ainda choram a chuva anterior.
Mas o que entristece é o guarda-chuvas pra se esconder de quem se quer ver, por algum motivo. O guarda-chuvas pra se precaver do banho que se precisa pra lavar a alma. O guarda-chuvas para se proteger dos outros. O guarda-chuvas para não mostrar o rosto. O guarda-chuva para não ver ninguém...