quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Moça com brinco de pérola

É impressionante como alguns detalhes dão toda a diferença... alguns deles fazem com que aquela pessoa que parece tão comum, tão "normalzinha", de repente ganhe um contorno, um recorte. Nas moças é mais fácil encontrar esses detalhes. Um brinco, o jeito de jogar o cabelo, uma pulseirinha no pé. Quando se trata dos moçoilos, a tarefa é mais difícil (e talvez por isso mesmo mais prazerosa). É que eles têm aquela mania de andar iguais, sei lá. Alguns parecem que só muda a cor.
Mas é aí que, olhando meio de esguelha, se percebe uma pulseira charmosinha, ou um cordão por dentro da gola da camisa, uma sombra de tatuagem por baixo da camiseta branca. Ou o jeito que olha cada vez que alguém passa perto, ou como põe as mãos nos bolsos. São esses detalhes, ou mesmos esses gestos espontâneos, que nos mostram alguma coisa que poucas pessoas vêem. São essas mínimas coisas -o jeito de olhar, de falar, de escolher, de guardar silêncio, de dizer "não sei", o jeito como se veste, como usa o cabelo- que diferenciam um ser humanos de bilhões de outros no mundo.
Há detalhes que se percebe também naquela pessoa que está só de passagem, ou que está na sua frente na fila do banco, ou em qualquer outro lugar. De alguma forma a gente "dialoga" com aquele ângulo descoberto no outro, nem que seja por pouquissimo tempo. E ficamos com aquela impressão guardada em nós.
Em todas as nossas relações vivemos essas descobertas quase que diariamente. Descobrimos no nosso outro coisas que o tornam cada vez mais peculiar, e podemos nos deixar surpreender por essas nuances.
Ou podemos nos fazer indiferentes a todo esse universo que se nos mostra. A gente é quem escolhe.

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Figura: Moça com Brinco de Pérola, Johannes 'Jan' Vermeer (1632-1675)

Um comentário:

Marcos disse...

Dez pontos, Raíssa!!!!